A arte da sedução

Um dos questionamentos que mais nos assolam é a questão de quem devemos ser. Os jovens (e principalmente as garotas; e digo isso porque sou uma delas) acreditam que uma pessoa que não tem um estilo concreto e vive mudando (seja de cabelo, de roupas ou de atitude) é falso ou não tem estilo nenhum. Como se isso fosse uma coisa ruim. Quer dizer, qualquer garota que passe pela adolescência (e estou falando de adolescentes em geral, porque assim que crescemos a gente passa a não dar a mínima para a questão do estilo; não que, sabe, eu seja uma velha de 90 anos presa no corpo de uma garota de 15. Apesar de às vezes parecer isso.) automaticamente também está sujeita a passar por essa crise existencial. Seja com 11 anos, com 13 ou com 18, toda menina acaba passando.

Às vezes a idade varia porque o amadurecimento chega mais cedo. Com 13 anos eu comecei a perceber que aquela eterna luta interna de não saber o que eu era só me trazia coisas ruins, me deixava deprimida e ninguém realmente se importava com isso além de mim mesma. Quando cheguei aos quatorze e meio, foi que parei definitivamente de me importar em ser alguém. Decidi que tudo bem querer ser de tudo um pouco, desde que no meu interior eu continuasse sendo eu mesma. E isso fez sentido e funciona até hoje. Existem pessoas de 30 anos que ainda não sabem o significado de "seja você mesmo", mas eu orgulhosamente digo que sei (ou pelo menos acho que sei. Talvez com 30 anos isso faça outro sentido para mim).

Tem dias que sinto vontade de ser daquelas pessoas que coloca um moletom e um fone de ouvido e se desliga do mundo, daquelas garotas que todo mundo olha e pensa "por que será que ela se esconde assim?". Afinal, tem algo empolgante no mistério que faz todo mundo querer ter um pouco em seu interior. Outras vezes, porém, eu desejo ser daquelas pessoas que tem mil amigos e que todos gostam de ter por perto, sempre rindo e fazendo piadas, sempre fazendo as pessoas sorrirem, sempre provocando pensamentos de "eu queria ser como ela" ou "eu conheço ela, é aquela que todo mundo diz ser bem legal". Outras vezes, eu queria ser daquelas super inteligentes, e até penso "vou ir até a biblioteca, ler um pouco sobre política, biologia, história, sociologia, filosofia e  ainda reservar um tempo para aprender mais sobre geografia". Aí, no outro dia eu estou disposta a ser a rainha da moda, daquelas que posta fotos no instagram com a legenda #lookdodia e fotos das unhas feitas com dicas de esmaltes, que tinge o cabelo de vermelho e todo mundo olha quando passa (eca, eca, eca, mas sim, eu desejo ser assim às vezes. Todas nós temos nosso lado super feminino). Também tem dias que desejo sair por aí e entrar em um protesto feminista. Outras vezes, quero ter uma estante cheias de clássicos da literatura (sendo que, na verdade, e infelizmente, nunca tive paciência para ler nem Machado de Assis, quem dirá Hamlet ou sei lá) e fazer um vlog sobre como eu sou intelectual e que por isso os garotos deviam se interessar por mim.

A questão aqui é: Qual é o grande e horroroso problema em querer ser tudo isso? Qual é o problema em querer ser mais reservado em uns dias, mais feminina no outro, mais despojado logo depois e aí no dia seguinte acordar querendo mudar o mundo? Nós somos jovens. Somos o espírito pulsante e vivo do mundo. Somos onde as mudanças acontecem, onde a vida ganha cor e o corpo dói de tanto viver. Somos os que amam com devoção e que odeiam com prazer. Somos o que move o mundo. Cada um de nós tem o direito de querer ser o que bem entender, pois o exercício de mudar de mente, mudar de ideia, mudar de opinião, de estilo, de tudo é uma das únicas coisas que ninguém pode nos tirar. Nossa alma.

Como diz o grande escritor Gilmar Marcílio, que tive o prazer de conhecer: "Somos mais pulsão e instintos incontroláveis do que donos do nosso querer e sentir." Não há sentido em querer minimizar, esconder e contrair o que nós devemos ser dentro de nós mesmos. Fomos feitos um diferentes do outro porque devemos libertar o nosso verdadeiro eu. Ser o que somos sem medo de parecer estranho. Gilmar Marcílio também diz que "surpreender é uma boa forma de seduzir o outro."

Que tal se a gente começar a seduzir o mundo libertando-nos de nossos próprios medos?

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