Resenha: Fangirl - Rainbow Rowell

 Eu sou maluca. Tipo, talvez você ache que eu sou um pouco maluca, mas eu só deixo as pessoas verem a ponta do iceberg de maluquice. Por baixo dessa aparência de um pouco maluca e levemente retardada socialmente, eu sou um completo desastre.
Fazem exatamente dois minutos que acabei de ler Fangirl. Eu já estava com o notebook no colo durante essas últimas dez páginas, repassando as palavras que usaria nessa resenha enquanto terminava de ler.

Eu estava muito ocupada terminando esse livro durante a última semana para pensar em escrever as duas semanas que estou devendo do projeto 52 listas, mas ninguém liga se ele está atrasado e o livro era muito mais interessante.

Começarei por dizer que, no momento, não consigo pensar em um livro com o qual me identifiquei mais na minha vida. Neste momento, as palavras fluem da ponta dos meus dedos mais rápido do que para escrever qualquer outro post nesse blog, tamanha é minha empolgação por deixar outras pessoas (escritoras, mais precisamente de fanfics, como eu) saberem o quão bom é este livro.

- Por que escrevemos ficção?
- Para explorar novos mundos.
- Para explorar antigos.
Para poder ser outra pessoa, Cath pensou. 
- Para nos libertarmos.
Para nos libertarmos de nós mesmos. 
- Porque é a única coisa que sabemos fazer.
- Para deixar nossa marca. Criar algo que viva além de nós. 

Muitas pessoas falam de Eleanor & Park e de como ele é bom, mas em minha opinião, o grande livro de estréia de Rainbow não chega nem aos pés de Fangirl. Mas é uma coisa pessoal, porque o livro em questão é feito com um tema bem específico: escritoras de fanfictions.

Calma. Eu vou chegar lá.

Fangirl conta a história de Cath Avery, uma das gêmeas Avery, que foram abandonadas pela mãe "da maneira mais dramática que alguém poderia ser abandonado", como Cath mesmo diz: no onze de setembro. Cath e Wren, sua irmã, vivem com o pai e são fãs da série de filmes Simon Snow e o Herdeiro do Mago (uma série muito parecida com Harry Potter, na vida real). Há dois anos da época em que a história se passa em questão, Cath e Wren começaram a postar uma fanfic de Simon Snow em um site de fanfics. A história se chama Vá Em Frente, Simon, e é um romance entre o protagonista da série e seu inimigo, Baz (mais ou menos como se fosse uma fic de romance entre Harry Potter e Draco Malfoy), que em pouco tempo fica famosa na internet e ganha muitos fãs que acompanham a história.
Cath sempre foi a irmã tímida e introvertida, enquanto Wren era o exato oposto. Apesar disso, as duas sempre fizeram tudo juntas. Mas quando ambas entram na faculdade, Wren se desliga da irmã para ir "viver sua própria vida" sem ter que dividir tudo, como elas fizeram a vida toda. Cath não gosta da ideia. Ela não é muito sociável, e não acha uma boa ideia não ter a irmã por perto.
Muita coisa nova acontece na vida de Cath, como o namorado fofo de sua colega de quarto, a professora rígida de suas aulas de escrita de ficção do curso de inglês, a volta de sua mãe... E entre tudo isso, Cath ainda tem que terminar de escrever Vá Em Frente, a única coisa que ela sente que faz de realmente importante em sua vida, antes que a autora da série original lance o último livro de Simon Snow.

- Não tenho que seguir nenhuma das regras. Os livros originais já existem; não é minha função reescrevê-los. (...) A idéia de escrever fanfiction - disse ela - é poder brincar com o universo de outra pessoa. Reescrever as regras. Ou alterá-las. A história não tem que terminar quando Gemma T. Leslie cansar dela. Você pode ficar nesse mundo, nesse mundo que você ama, quanto quiser, contanto que pense em novas histórias...

Fangirl é o livro mais marcado com marca texto da minha estante. Provavelmente eu nem vou conseguir deixar nesse post todas as marcações, porque além de muitas citações maravilhosas sobre como é ser uma fã e escritora de fanfiction, Cath tem uma maneira maravilhosa de descrever tudo ao seu redor.

Uma das muitas coisas que amo sobre a personagem é exatamente essa: Cath vê e descreve tudo como se estivesse escrevendo um de seus romances.

Talvez Fangirl não caia tanto nas graças dos leitores como foi com o bom e velho romance que é Eleanor & Park, por falar de um tema específico que - eu tenho certeza - a maioria das pessoas não é capaz de entender.

Era por isso que Cath escrevia as histórias. Para ter esses momentos em que o mundo deles suplantava o mundo real. Quando ela podia simplesmente cavalgar nos sentimentos deles como uma onda, como algo flutuando morro abaixo.

A verdade - e você pode ter certeza que sei do que falo, tendo eu mesma escrito uma fanfic durante mais de dois anos - é que ser escritora de fanfictions é muito mais do que apenas ser uma fã. É mexer com o universo de outra pessoa, criar histórias que vão muito além da imaginação comum, é expor suas próprias vontades e sentimentos por meio da vida (ou do universo) de outra pessoa. E isso é algo que apenas uma fã escritora pode entender. E Cath, a protagonista, me entenderia completamente. Rowel descreve, no livro, o exato sentimento que me toma quando escrevo sobre as coisas que amo:

A digitação fica mais rápida, a respiração, mais leve. Ela reparava que acompanhava com a cabeça o ritmo das palavras conforme elas brotavam dela. 

Além de toda essa parte de escrever Vá Em Frente, que é minha parte preferida de toda a história, Cath também passa por toda a transformação e a parte marcante da vida de qualquer garota de conhcer um garoto especial, de se apaixonar por ele e de, finalmente, pela primeira vez, viver um romance de verdade, fora da tela de seu computador.

Levi, o garoto em questão, é tão simples que deixaria Eleanor ou Park no chinelo. Ele é puro. É exceptionalmente comum. Não há nada de ordinário nele, além de seu extremo bom humor sempre e do sorriso que nunca deixa o seu rosto. O que faz com que ele se torne diferente é a dificuldade de Levi de ler um livro e compreender o que leu: ele não consegue ler, apenas ouvir as palavras; ele estuda por meio de palestras gravadas em áudios. Cath começa a ler para ele suas fanfictions, e Levi se interessa por elas, diferente de qualquer outra pessoa fora da internet, e isso os aproxima.

É claro que sempre existem aquelas pessoas que não entendem seu propósito, principalmente quando se trata de escrever histórias sobre pessoas ou personagens que já existem (ainda mais quando eles sao gays, como é o caso de Cath). A personagem, inclusive, sente a mesma coisa que eu ao deixar claro no livro que tem medo que as pessoas achem que ela é louca pelo que faz. Cath inclusive é acusada de plágio por uma de suas professoras ao revelar as fanfics que escreve.

Se eu precisasse dar a Fangirl uma nota, seria vinte! Não faço ideia de como, mas Rainbow entendeu direitinho como nós, fãs, nos sentimos, e ela foi a única autora capaz de escrever um livro sobre isso. Sobre a paixão por trás de escrever fanfiction.

Além de tudo isso, ainda há meus profundos parabéns à autora do livro, que me mostrou pela segunda vez se sair muito bem sucedida em escrever sobre problemas psicológicos sem padronizar, sem ser clichê ou usar esteriótipos.

Aliás! Eu li pela internet que há boatos de que Rainbow esteja realmente escrevendo um livro sobre Simon Snow. YAY! Então vou terminar essa resenha com o pedacinho de Simon e Baz que mais gostei:


- Nunca quis você por perto. - Disse Simon (...).
- Isso era verdade. Até você resolver que me quer sempre por perto. Que a vida é apenas uma concha vazia a não ser que você saiba que meu coração está batendo em algum lugar na vizinhança.
- Eu resolvi isso?
- Talvez eu tenha resolvido. Deixa pra lá. Mesma coisa. 




  Laís S.

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