Neste último sábado, um garoto chamado Ronei, de apenas
dezessete anos, foi brutalmente assassinado a garrafadas na cidade gaúcha de
Charqueadas, próxima da capital. O grupo de pessoas que o assassinou
aparentemente não tinha motivo algum, atacou por atacar, na saída de uma festa,
como já haviam feito antes com outras vítimas.
Ronei tinha a minha idade. Seu pai contou ao Jornal do
Almoço que toda manhã ele ia deitar com os pais antes de irem trabalhar. Quando
o pai viajava, ele dizia que não era para se preocupar, que ele estava tomando
conta da mãe. O pai de Ronei lamentou, enquanto chorava na reportagem, que não
pôde proteger o filho, o mínimo que um pai precisa fazer.
Ronei nunca poderá tirar a carteira de motorista. Nunca
chegará a terminar o colégio, prestar o vestibular, escolher qual profissão
seguirá no futuro. A vida dele foi lhe tirada injustamente por absolutamente
nada, apenas por diversão.
O comandante da Brigada Militar da região de Charqueadas
relatou que, para uma cidade de quarenta mil habitantes, há apenas uma viatura da Brigada e dois policiais em serviço. Qual a
segurança que se deve esperar de dois homens para quarenta mil pessoas? Além
disso, o processo de localização das quatorze pessoas que mataram o garoto
está, como sempre, “em andamento”.
O que tenho a dizer sobre isso, é que sinto muito. Eu sinto
muito por Ronei, que nunca saberá sequer porque sua vida foi tirada de uma hora
para outra. Sinto muito por seus pais, que tinham apenas ele como filho, e que
depois de dezessete anos doando suas vidas para dar amor e proteção a um filho,
perderam-no tão injustamente. Eu sinto muito que a justiça seja praticamente
inexistente em nosso país, onde, enquanto quatorze pessoas assassinam alguém a
sangue frio por diversão e ficam impunes, presidiários estão sendo liberados
das cadeias antes do final de suas penas porque não há mais espaço nos
presídios.
E eu sinto muito não apenas por Ronei. Sinto muito por
milhares de outros jovens que são assassinados sem causa alguma, ora por bala
perdida, ora por briga de namorados, ora por opção sexual. Sinto muito pelas
milhares de mulheres que são assediadas, estupradas, espancadas diariamente em
nosso país, pelos gays que precisam
temer ser quem são por sua própria segurança, ou por praticantes de religiões
que são atacados por outras com pedradas na cabeça ou coisa pior. Sinto muito
pelas pessoas que morrem em leitos de hospital, sendo tratadas como bichos,
enquanto outros nadam em rios de dinheiro que não lhes pertence. Sinto muito
pela falta de educação de nosso povo, onde assassinar um garoto inocente a
sangue frio é divertido. Sinto muito pela minha escola e tantas outras que
estão caindo aos pedaços. Sinto muito por nossos educadores, que recebem
parcelado para serem responsáveis por dar educação aos nossos jovens, às nossas
futuras gerações, para que essa história não se repita. Eu sinto muito! Sinto
muito pelo Brasil!
Eu sinto muito, Ronei. Gostaria de dizer que sem você o
mundo não é o mesmo, mas seria mentira. Sem você o mundo continua o mesmo. O Brasil continua o mesmo, assassinando
pessoas inocentes como você e saindo impune, roubando mais do que pode carregar
sem nem vergonha na cara, ensinando nossas crianças de que a corrupção é
necessária, de que “tudo bem, desde que
eu esteja confortável os Roneis que continuem morrendo nas ruas.”
A todos, eu sinto muito. Não acredito mais no Brasil. Não há
nada que possa melhorar sem educação. E educação é o que mais nos falta.
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