Montanha russa

Uma coisa que realmente me incomoda nos usuários da internet, mais até do que "lembro de Novembro como se fosse ontem" no primeiro de Dezembro ou "e se sexta-feira treze cair em uma terça?", é aquela frase usual, principalmente entre os adolescentes, "espero que o ano novo seja melhor do que esse".

A ideia de que é tão mais fácil para todo mundo reclamar do que tentar mudar me deixa transtornada. Porque, ora, eu não vou ser hipócrita a ponto de dizer que nunca reclamo, na verdade eu reclamo até se o vento bate com muita força no meu cabelo, mas é uma questão totalmente diferente.

Para começar, por que é que o ano é que tem que ser diferente, e não você? Se todos os anos da sua vida até agora foram uma porcaria, a culpa certamente não foi dos trezentos e sessenta e cinco dias que você viveu durante ele. E nem foi azar, carma, destino ou isso tudo aí.

Dan Brown nos explica durante o livro Inferno que a mente sempre tende a ignorar as coisas que nos preocupam, para que as pessoas simplesmente não vivam o tempo todo com medo de morrer a qualquer hora. Acho que isso se estende por um monte de lugares bem mais amplos da nossa mente. Acho até que as pessoas tendem a pôr a culpa das suas decepções e erros e desilusões em coisas que não têm nada a ver, como o ano em questão.

Em 2014 vão acontecer diversas tragédias, como a de Santa Maria. Com certeza pessoas queridas vão morrer, como Cory Morteith. Você vai pegar doenças, vai se machucar, vai conhecer pessoas que não valem nada, vai chorar por brigas familiares, vai descobrir coisas que não gostaria, musicas horríveis de axé vão aparecer do nada, vai ficar sem dinheiro para sair com os amigos, e vai se dar muito mal na prova de matemática. Mas também vão acontecer muitas coisas boas. Você vai rir até a barriga doer com seu (a) melhor amigo (a), vai beijar alguém que vai gostar mais do que devia, vai trocar olhares com uma pessoa interessante, vai conhecer gente nova, ler aquele texto que te fez refletir, vai ganhar um presente incrível, achar a roupa perfeita, olhar o filme do ano e se apaixonar por um ator desconhecido, vai conhecer uma banda que canta a trilha sonora da sua vida e esquecê-la em um ou dois meses, vai receber surpresas maravilhosas, fazer novos amigos e ler um livro incrível, vai sentir o cheiro de uma pessoa que passou ao seu lado e sentir vontade de repetir, e talvez você tome um banho de chuva daqueles que lavam até a alma.

O ano não vai ser perfeito. Vão ter altos e baixos, talvez mais baixos do que altos, ou talvez seja o ano da sua vida. Você vai sofrer mágoas, mas talvez passe por uma fase de esclarecimento e descubra exatamente quem quer ser ou o que quer fazer. Ou talvez você precise de mais dois ou três anos afogado em ignorância para depois finalmente abrir seus olhos, afinal o mundo abre suas cortinas para cada pessoa em seu tempo certo. Você vai dar de cara com muitas oportunidades, boas e ruins, e pode deixar algumas passar e depois se arrepender até os fios de cabelo. Vai chorar e vai sentir medo, mas também vai se apaixonar e sentir o coração inflar até querer explodir.

Nenhum ano é perfeito, mas quem faz seus próprios dias, suas próprias fases, seus próprios caminhos é você, e ninguém mais. A mudança começa dentro de cada um. Antes de reclamar da sua vida, da sua situação, olhe em volta e pense se pode fazer algo para mudar. Antes de decidir "é isso, minha vida não presta, estou com depressão e preciso cortar os pulsos" seja sincero consigo mesmo e tente melhorar. No momento em que a gente se sente confortável com nós mesmos, tudo em volta melhora.

Todos nós teremos dias em que não vamos querer levantar da cama, mas também teremos dias que contaremos as horas para que cheguem.

Um tal inglês que não sabe nada da vida uma vez disse algo que provavelmente seja a coisa mais sábia que já pensou em dizer: "Apenas feche os olhos e aproveite da montanha russa que é a vida."

Quem faz nossos próprios anos somos nós, e apenas nós.

                                                                                                             Laís S.